O país inteiro reconhece o engenheiro Jardim Gonçalves. Lamentavelmente, nem todo o país conhece os notáveis vinhos Infinitude que ele teve a inspiração de criar, com o enólogo Francisco Figueiredo, a partir de vinhas plantadas num simples hectare de terreno da Quinta da Azenha, o lugar em que escolheu viver.
A vinha, nascida no primeiro ano do milénio, possui dentro de muros sete mil metros quadrados de Pinot Noir, a que se acrescentam três mil metros de Merlot plantados em terreno contíguo. Em 2010 fez-se dali o primeiro vinho, para consumo da família. As colheitas seguintes originaram uma marca que se baptizou de Infinitude, celebrando a passagem das gerações.
Em breve, outros dois hectares e meio de vinha irão nascer numa propriedade que agora se restaura. Aí serão plantadas também castas brancas, como Chardonnay e a Malvasia de Colares, que tanto enobrecem este terroir. Projecta-se ainda uma adega, que tomará o lugar da lendária adega de Colares hoje usada para o apuro da vinificação.
Após a vindima, em meados de Setembro e princípio de Outubro, as castas são separadamente sujeitas ao processo clássico da “curtimenta” com desengace. A fermentação processa-se a temperatura controlada (26º a 28º), e é sujeita a uma remontagem cuidadosa. Segue-se um estágio em pequenas barricas usadas de carvalho francês.
O pequeno portefólio inclui um blend de Pinot e Merlot, a que acrescem dois varietais de ambas as castas. Do blend Infinitude produzem-se quatro mil garrafas apenas. É um vinho seco, delicado, com notas salinas, cheio de complexidade e frescura, que revela, seguindo a intenção de quem o cria, grande potencial de envelhecimento em garrafa.
O Infinitude Merlot acolhe apenas a casta de que recebe o nome. Vinho de várias colheitas, envelhecido em barricas usadas de carvalho francês, revela notas especiadas, ligeiramente vegetais, com taninos sedosos e final prolongado.
O Pinot Noir segue filosofia idêntica ao combinar, segundo Francisco Figueiredo, “50% da colheita de 2012 com barrica usada e outros 50% de 2014 e 2015”. Vinho subtil, com notas florais e terrosas de bosque, revela uma acidez expressiva que nos permite adivinhar a sua longevidade.
Na Quinta da Azenha, que outrora acolheu a elite da política e dos negócios, respira-se agora uma atmosfera bucólica de suave domesticidade. Para a família do engenheiro Jardim Gonçalves, a sua mulher Assunção, os seus cinco filhos e inúmeros netos de idades variadas, nunca faltam pretextos para honrar a passagem serena do tempo e a harmonia das gerações. Juntemo-nos a eles num último brinde com o vinho que criaram, e que os acompanhará, assim o esperamos, em séculos de prosperidade.