A Adega Viúva Gomes, jóia da enofilia portuguesa, adorna uma das nossas mais encantadoras paisagens rurais, não muito longe da capital. Ali, em Almoçageme, freguesia de Colares, as vinhas crescem em solos arenosos, expostas à inclemência do Atlântico. A Região foi demarcada em 1908, mas a produção de vinho remonta aos tempos da romanização. As suas vinhas alcançaram a notoriedade por terem resistido à filoxera, graças à profundidade das raízes que alcançam os oito metros, assim se explicando que ainda hoje sejam cultivadas em pé-franco. As suas castas autóctones, a tinta Ramisco e a branca Malvasia de Colares, estão esplendorosamente adaptadas ao terroir, originando vinhos com pouco álcool, mas muito complexos e minerais, com grande potencial de envelhecimento em garrafa.

A adega, fundada há dois séculos, apresenta-se hoje como uma ”boutique winery” bem adaptada aos constrangimentos da minúscula Região Demarcada em que se integra. O pequeno portfólio inclui dois vinhos regionais de Lisboa, baptizados de Patrão Diogo, em que se inclui um blend das castas tintas Castelão e Aragonez e outro de castas brancas Fernão Pires e Arinto, que aqui se materializam numa expressão mineral e num equilíbrio interessante entre o aroma e o palato em que avulta a acidez própria dos vinhos da costa portuguesa.  

Mas a mais notável manifestação deste terroir único é inegavelmente a que provém dos seus vinhos Colares DOC. A saber, um tinto varietal da casta Ramisco, autóctone da zona, com um carácter atlântico e uma acidez mineral muito delicada, textura seca, e algum fulgor taninoso que se esbate com os anos. Trata-se de um vinho apaixonante, entrelaçando aromas de frutos vermelhos, frutos secos e resina de cedro numa harmonia complexa.

Já o Viúva Gomes branco, também ele um varietal da Malvasia de Colares, se exprime com grande mineralidade em aromas de maresia e iodo, com uma prova de boca em que se destaca a frescura, as notas salinas, a textura seca e uma acidez atlântica muito delicada. 

Ao envelhecerem, os vinhos Viúva Gomes mantém um fulgor e uma frescura notáveis. Os tintos adquirem aromas de terra húmida, cereja e passa, mantendo os taninos bem marcados e assinaláveis notas salinas no final.

Passados dois séculos desde a sua fundação, resistindo ao mar e às alterações da paisagem, à doença e às convulsões da história, os vinhos Viúva Gomes uma expressão notável do tempo e da resiliência humanas, convocando a paixão dos enófilos com um sopro de maresia.