Quem percorrer a informação disponível sobre este produtor ficará surpreendido com a força comovedora da sua ligação à terra. Em vez de se referirem castas (mais de vinte, algumas desconhecidas), enumeram-se as pessoas que ajudaram a reconstruir única adega desta aldeia de 300 habitantes chamada Parada de Infanções, a poucos quilómetros de Bragança, no Norte de Portugal. Assim conheceremos o Toninho, Presidente da Junta de Freguesia. A Augusta, a vizinha do lado, cheia de personalidade. Ou a dona Ana, merceeira e fadista de talento reconhecido. Em vez da enumeração de hectares de vinha fala-se aqui do património; da igreja matriz e da igreja paroquial, da ponte romana e das festas e romarias do calendário cristão: a Festa do Ramo, a Festa do Carro, a Festa da Rosca e da Galhofa, o cantar dos Reis e o Entrudo.
Nas redes sociais, os habitantes de parada, os seus filhos e netos, muitas vezes em França ou em Lisboa, escrevem palavras de apoio e elogio ao vinho da terra, o Alto do JOA, que é “uma maravilha!”
E é mesmo.
Este vinho, que no fundo não pertence a uma pessoa mas a uma comunidade de aldeões apaixonados, captura todo o encanto das tradições rurais. As vinhas centenárias, de pé franco, com mais de 120 anos, reúnem castas como o Bastardo e o Mourisco, o Cornifesto e a Tinta Amarela, o Alvarelhão e a Formosa, o Folgasão e a Dona Branca, a Chasselas Suíça ou a Jaen.
O resultado desta ecologia estimulante, sublinhada pelos terrenos xistosos, os 700 metros de altitude e as amplitudes térmicas elevadas, próprias da região, desembocam num produto complexo, ideal para espíritos curiosos.
A vinificação faz-se por co-fermentação de todas as castas, após escolha das melhores uvas na vindima, São usados lagares de mil litros para a pisa a pé, a que se sucede um estágio de cerca de dois anos em barricas usadas de carvalho francês.
O vinho apresenta grande capacidade de evolução em garrafa. Com cor aberta, aroma muito complexo em que se cruzam a esteva, a giesta, a urze e frutos pretos maduros, revela acidez bem presente e uma maciez bem presente até ao final em boca. Vinho muito elegante, único, é com frequência comparado aos vinhos da Borgonha, proporcionando a quem o prova uma experiência singular.
Apesar do vocabulário ser mais complexo, há uma coisa em que os enófilos, críticos e grandes apreciadores parecem concordar com os simpáticos habitantes de Parada de Infanções: o Alto do JOA “é uma maravilha”.