No Alto Douro Vinhateiro, sub-região do Baixo Corgo, convivem três parcelas com um total de seis hectares em socalco e exposição a Oeste. Os solos, xistosos e de transição para o granito, acolhem vinhas velhas com castas seculares na região.
Entre as tintas contam-se a Touriga Franca, Tinta Barroca, Tinta Roriz, Touriga Nacional e Trincadeira, complementadas por castas raras como a Malvasia Preta, a Tinta da Barca e Rufete. Entre as brancas, já na zona granítica, merecem destaque a Viosinho, a Gouveio e a Fernão Pires.
Foi este o local escolhido por Rui Soares para se aventurar na produção de marcas próprias de vinhos de mesa do Douro de elevada qualidade. Não se tratou de uma aposta temerária. A tradição vinhateira é herança familiar, remontando ao avó Fernando que ali plantou muitas cepas. Também a sua carreira de alto quadro da Real Companha Velha, produtor histórico de Porto, deu a Rui Soares experiência e realismo para tornar a paixão que o consumia numa empresa triunfante.
Em 2002 escolheu-se o nome do vinho: Esmero. Sinónimo de apuro e requinte. Uma homenagem ao que de melhor há no Douro. A primeira colheita, do mesmo ano, não desiludiu.
Produzido a partir de uma vinha quase centenária, com mistura de castas, o Esmero Tinto é feito em lagar tradicional, com 18 meses de estágio em barricas de carvalho francês. João Paulo Martins, o grande crítico de vinhos, atribui à mais recente colheita de 2012 a classificação de 16,5 pontos, elogiando a “boa concentração de cor”, o “aroma vigoroso” de “frutos maduros”, “notas químicas e chocolate amargo” com “um toque de verniz”, recomendável para “pratos bem temperados”.
O Esmero Branco, de 2014, oriundo de uma vinha com 30 anos em terreno de transição, é composto por um blend de Viosinho, Gouveio e outras castas do terroir. O crítico assinala o aroma de “notas verdes, citrinos, folha de limoeiro, tudo em boa dose e com elegância”. Trata-se, assinala, de “um branco fino, muito fresco, muito estival”.
O sucesso da marca Esmero abalançou o produtor a idealizar outros vinhos. Assim nasceram os Mimo, branco ou tinto, com blends diferentes dos Esmero, feitos de uvas colhidas a altitude superior. São vinhos aromáticos, com um perfil mais jovem (embora provenham de vinhas velhas de 30 a 50 anos), que dão provas muito elegantes na sua descontração. Foram acarinhados pela crítica, e alcançaram excelentes classificações.
Ao valorizar as vinhas velhas e a formação de lotes invulgares, equilibrados por uma vinificação cuidada, Rui Soares tem vindo a emprestar novas e interessantes expressões aos vinhos de mesa durienses. Fazer vinho, nas suas mãos experientes, é como acolher a Natureza e a História numa alquimia sensível que presta tributo ao extraordinário património da região.