Há histórias assim, que começam de modo auspicioso e desembocam num final feliz. O romance da Quinta da Ferradosa remonta ao Século XIX, quando integrava o património da família Borges, fundadora de um banco de boa memória em Portugal. Foi então adquirida pela Real Companhia Velha, a nossa mais antiga empresa de produtores de vinho do porto, e a seguir por Joaquim Manuel Calem, proprietário da A.A. Calem & filho Lda, grande exportador.
O patriarca tinha vastas ambições para o local, que não chegou a cumprir. Por sua morte a quinta foi deixada a um filho, em 2006. E este tomou para si o sonho de fazer regressar a Quinta da Ferradosa à glória de outros tempos.
A propriedade compreende 350 hectares, ente os quais 15 de vinhas. Predominam as castas Touriga Nacional, Touriga Franca e Tinta Roriz, mas enriquecidas em 2013, por vinhedos de Alicante Boushet, Tinto Cão, Sousão e Shiraz. A sua localização na margem norte do rio coloca-a entre a elite das casas ilustres do douro, como a Quinta do Vesúvio ou Vale Meão.
Após remodelações profundas, de recuperação do casario e melhoramentos na adega, produziu-se um pequeno milagre em escasso tempo: 8 mil garrafas de vinho que atraíram a exuberância da crítica e a paixão dos apreciadores.
João Paulo Martins não lhes poupou encómios no seu guia anual de vinhos, canónico em Portugal. A edição de 2014 coloca o tinto Quinta de Ferragosa 2011 no top 10 dos melhores vinhos DOC do Douro! E as apresentações seguintes destes magníficos vinhos não deixaram créditos em mãos alheias.
O Quinta Ferragosa tinto de 2012 acolhe nova homenagem do crítico, pelo “aroma muito definido” e por “boas notas de fruta muito madura mas com elegância e sem exageros de extracção”. Eis um vinho “polido e acetinado”, com “surpreendente proporção de conjunto”.
Já o Quinta da Ferragosa 2013, é louvado pela “grande harmonia cromática (…) num diálogo muito positivo entre a fruta e a madeira (…) inserida aqui com muito cuidado para não estragar o ambiente”. A ambos João Paulo Martins atribuiu a excelente pontuação de 16,5.
O prazer de apreciar um vinho de grande carácter ultrapassa em muito a enumeração das suas virtudes organolépticas. Porque os melhores vinhos conduzem a memória dos povos e os sonhos das gerações. Nos tintos da Quinta de Ferragosa há esse traço evanescente, mas definitivo, de uma promessa que se cumpriu e derrama a sua felicidade sobre nós.