Sempre que falamos em Colares, sentimos a emoção a fazer o seu percurso entre os espíritos dos conhecedores. É assim desde sempre. O escritor Eça de Queiroz, que os amava, chamava-lhes os mais franceses vinhos de Portugal. A minúscula zona de marcada, que já teve oito hectares de vinha e hoje possui apenas dezassete, vive do sopro de paixão que anima um punhado de produtores.
A sobrevivência destas uvas e destes vinhos é um milagre. Resistem aos ventos do mar e à corrosão das partículas de areia, como resistiram à filoxera e, em tempos mais recentes à especulação imobiliária. A produção por hectare nos terrenos arenosos não ultrapassa as duas toneladas, e exige cuidados minuciosos, despesas extremas, uma dedicação sem limites.
Os vinhos devem a sua celebridade à casta Ramisco, trazida a estas paragens por ordem de D. Afonso III, no século XIII. Dá origem a vinhos complexos, com baixo teor alcóolico, muitos taninos e uma grande longevidade. Entre os vinhos brancos destaca-se a Malvasia de Colares, que origina os brancos notáveis, salgados, vivos e ácidos da região.
Ainda hoje a Adega Regional de Colares congrega a maioria dos produtores num edifício célebre, em que se preservam a cultura e os métodos ancestrais. Ostentando com orgulho o título de “Adega Cooperativa mais antiga do país”, produz e comercializa um pequeno portefólio de vinhos que incluem os despretensiosos Serra da Lua, e os blends Chão Rijo, feitos de castas tradicionais como a Castelão e Tinta Roriz (no tinto) e a Malvasia, Galego Dourado, Jampal e Fernão Pires (no branco). Ambos se distinguem por uma grande vivacidade aromática, pelo toque mineral que lhes proporciona o chão de areia e a proximidade do mar. O tinto apresenta-se com aroma de frutos vermelhos e tosta, na boca avulta um toque de madeira e pinhão.
Estrelas da casa são os vinhos Arenae, branco e tinto, varietais de Malvasia de Colares e Ramisco respectivamente. A Malvasia é plantada em pé franco, a menos de um quilómetro do Atlântico, e origina um vinho muito agradável com notas cítricas, de maçã cozida, muito fresco e mineral. Quando envelhece adquire aromas de frutos secos, iodo, cera e feno.
O Arenae tinto apresenta em jovem cor rubi e taninos bem vincados, que se esbatem ao longo do estágio. Os aromas, muito associados à casta, oscilam entre a ginja e a resina de cedro. Na boca mostra o seu lado Atlântico, revela uma textura seca, uma acidez vincada.
Na Região vitivinícola mais Ocidental do continente Europeu, a vida prossegue e os vinhos nascem como na Idade Média. Entre a fúria dos elementos e a passagem das gerações, mantém-se um património riquíssimo de técnicas de cultivo e vinificação próprias, plasmadas em vinhos que pertencem à terra e ao mar, quase tanto como aos homens que os produzem.