Há cerca de três décadas, tendo percorrido o mundo em afazeres profissionais, o engenheiro Hernâni Verdelho regressou à quinta da sua família numa encosta soalheira do Douro, para aí erguer um património vinícola singular.
Com energia espevitada por doces recordações de juventude, foi beneficiando as vinhas velhas e plantando vinhas novas em terrenos de encosta de média altitude, xistosos, abrigados e com excelente exposição solar.
A missão foi orientada por agrónomos de primeira água, que trasladaram para as profundezas intocadas do Douro as técnicas e os métodos da moderna vitivinicultura. Dessa alquimia resultou um complexo de 15 hectares em que se combinam harmoniosamente castas raras, em vinhas antigas seculares, e castas endémicas perfeitas para o terroir.
Assim, às Tinta Roriz, Touriga Nacional, Touriga Franca, Tinta Barroca, Tinto Cão, Rabigato e Verdelho, unem-se preciosidades pré-filoxéricas que nem sempre constam do registo actual de castas do IDVP. Contam-se entre elas a Casculho, o Cornifesto, a Tinta Raiz e a Silveirinha, o Donzelinho e o Folgazão
Na Quinta do Carrenho nada foi deixado ao acaso. A adega, semienterrada, virada a norte e isolada termicamente, garante as condições ideais para o estágio dos vinhos. Também a garrafeira assegura condições ideias de temperatura e humidade para o estágio em garrafa. Com laboratório, enoteca, sala de provas e de uma sala de formação para a recepção de grupos e para a realização de encontros e cursos, forma-se assim um complexo enológico que muito beneficia todo o processo de vinificação.
Este labor derrama-se intacto nos vinhos Dona Berta, de rara elegância, entre os melhores que o Douro é capaz de produzir. O grande crítico João Paulo Martins, no seu guia canónico de vinhos de Portugal, distribui encómios às várias declinações do portfólio, mas destaca justamente o branco e tinto de Vinha Centenária, os elegantes Rabigato e o Tinto Cão Reserva, particularmente gastronómico e original.
Baptizados numa homenagem tocante à mãe do fundador, todos os vinhos Dona Berta revelam o carácter expressivo das grandes cepas durienses, e a gratidão de quem regressou às suas terras para delas retirar o melhor de si, como fez Hernâni Verdelho.