Um grupo de velhos amigos, caçadores por vocação, amando o Alentejo, o Guadiana, a bela vila Mértola e os vinhos da região, aventurou-se um dia a explorar vinte hectares de solo xistoso na margem direita do rio para aí cumprir o sonho de criar vinho excepcionais.
A terra dista do mar, mas a proximidade da água e do sopé da Serra do Caldeirão explicam que seja aspergida por uma frescura que não abunda em outras vinhas alentejanas.
Em 1999 iniciou-se a plantação, primeiro de castas alentejanas, Trincadeira e Aragonês, depois de castas internacionais, Cabernet Sauvignon e Syrah, e uns anos mais tarde, após análise detalhada, por três hectares e meio de Alicante Bouschet.
Afirmar que o projecto triunfou seria um understatement: os vinhos agregaram desde muito cedo a unanimidade dos críticos, recolhendo elevadas pontuações.
O portfólio breve, mas assertivo, é enumerado com desvelo por João Paulo Martins no seu guia Vinhos de Portugal 2016, em que distribui a eito encómios por brancos, tintos e rosés, com invulgar generosidade, favorecendo os Reserva e Grande Escolha por razões que se adivinham.
O tinto Reserva 2011, blend de Cabernet Sauvignon, Syrah e Alicante Bouschet, recebe 13 meses de estágio em barrica, sendo produzido só em anos muito bons. O crítico elogia-lhe a concentração, o aroma vigoroso, a boa inserção da madeira e a presença do Cabernet. Os taninos finos mas presentes recomendam que se guardem alguns exemplares em cave, para apreciar.
Do Grande Escolha Mário tinto, uma homenagem, fizeram-se apenas duas edições, ambas excepcionais. A primeira, de 2012, reúne as três castas do Reserva, mas num diálogo que João Paulo Martins classifica como “muito interessante”, com uma “harmonia e serenidade que se adaptam bem aos 80 do homenageado”. “Dá muito prazer a beber”, conclui.
Já o Grande Escolha Mário tinto 2013 é um monovarietal de Cabernet Sauvignon. “Concentrado na cor (…) um bom Cabernet, maduro, cheio, com frutos bem presentes e taninos ainda um pouco aguçados”. Para guardar, portanto.
Os vinhos da casa revelam características comuns. Os tintos com muito corpo, muita estrutura e taninos invariavelmente redondos, surpreendem pelo elegante convívio da complexidade e frescura. Os brancos, de vindima algo precoce, notabilizam-se pela acidez equilibrada, frescura e elegância, com volume.
Numa filosofia de respeito pelo terroir, a Bombeira só usa uvas próprias, procede à monda intensa de cachos, à vindima manual, e orgulha-se da selecção rigorosa das uvas para vinificação. Sempre com merecido destaque no segmento premium, os seus vinhos são muito prestigiados entre os locais. Para tal contribui a inserção da herdade no Parque Natural do Guadiana e o respeito pelos usos da doce vila de Mértola, que ornamenta com elegância e amor à arte da vitivinicultura.