É uma história invulgarmente remota, a que envolve esta propriedade de trinta e quatro hectares a cinco quilómetros de Évora. Os primeiros relatos da produção de vinho na área datam dos tempos da destruição de Cartago; mas só no Século XIII coube a D. Afonso II ordenar que se plantassem vinhedos junto ao ribeiro da Peramanca, assinalando o terroir que conhecemos. O reconhecimento não tardou. Mais tarde, D. João II encomendaria para o casamento do seu filho “vinho de pera manca e outros bons que houvesse no concelho”.
Atravessando os séculos, a genealogia ilustre destes vinhos parece um pedaço da eternidade. Eleitos por D. Manuel I, foram celebrados por Duarte Nunes de Leão, que sobre eles escreveu: "Em Alemtejo há os vinhos da cidade de Évora, de que sao mui estimados os de Peramanca em sabor e subsistência”. Durante o reinado de D. João V, o monarca chegou a ordenar que fossem produzidos apenas para consumo real.
Pouco antes de 1900 a filoxera arruinou o cultivo da vinha em toda a região de Évora, exceptuando a área que rodeia esta Quinta. Os vinhos Pêra-Grave, criados por João Grave, são os frutos derradeiros desse terroir.
Hoje, a vinha ocupa quinze hectares e meio, com quatorze de uva tinta. Das castas cultivadas merecem destaque a Touriga Nacional, Aragonez, Alfrocheiro, Alicante Bouschet, Syrah e, entre as brancas, Arinto, Verdelho e Alvarinho.
A equipa de enologia, a cargo de Nuno Cancela de Abreu e Luís Bourbon, é responsável por um portfólio refinado em que se destaca o Tinto Grande Reserva Pêra-Velha, combinando as castas Syrah e Alicante Bouschet numa harmonia de frutos maduros, pimenta preta, especiarias e cacau, com a elegância do carvalho francês, taninos redondos e bom volume na boca. Reconhecido pela sua personalidade extraordinária, trata-se de um vinho de excepção.
Entre os vinhos Pêra-Grave, símbolo da casa, contam-se um branco, um tinto e um reserva. O primeiro integra Alvarinho, Arinto e Verdelho num conjunto marcado pelos frutos amarelos e lima, fresco, envolvente, com complexidade e muita persistência no final de prova. Já o Tinto, um vinho notável, apresenta cor carregada e aroma a uva madura e a compotas, num corpo redondo e firme com bons taninos e um fim de boca longo e agradável.
É o Tinto Reserva que merece um lugar de primus inter pares entre estes vinhos excepcionais. Distinguido com a medalha de ouro Mundus Vini 2016, com a medalha de prata Vinalies Internationales 2016, recebeu em anos anteriores um longo cortejo de prémios. Produzido a partir de Cabernet Sauvignon, Touriga Nacional e Syrah, tem cor retinta, aroma de frutos pretos e um toque floral a violetas, paladar complexo, taninos redondos e aveludados com final de prova elegante e muito persistente, capaz de emudecer os grande apreciadores.
Na Quinta de São José da Peramanca, entre o casario de arquitectura barroca e a Igreja de São José que lhe dá o nome, honram-se as tradições milenares da região de Évora de uma maneira que enobrece os seus proprietários: pela criação de grandes vinhos que os séculos recordem, desafiando, também, a eternidade.