Após uma licenciatura em engenharia agrícola, uma pós-graduação no Porto e na Austrália, e alguns anos de carreira como docente e investigador de enologia, Paulo Laureano tornou-se consultor, contribuindo com energia invulgar a para criação de dezenas de vinhos, entre os quais se contam marcas — como o Mouchão — lendárias no Alentejo.
No final do milénio, com clareza profética, pegou em 110 hectares, num punhado de castas portuguesas e no prestígio acumulado por anos de criações notáveis, e cumpriu a missão de desenhar um conjunto de vinhos contemporâneos, distintos e incontornáveis.
É na Vidigueira, a parte do Alentejo que ama, que cultiva castas predominantemente portuguesas. Entre as tintas, Alfrocheiro, Aragonês, Trincadeira e a Alicante Bouschet, que tão bem se adaptou ao Alentejo. Entre as brancas, Antão Vaz, Arinto e Roupeiro. Prosperam num terroir de clima quente, chuvas reduzidas, solos pobres (uma mancha única de xisto) e boas exposições solares, que permitem a elaboração de vinhos de aromas maduros e texturas sedosas, com muita mineralidade e frescura.
Paulo Laureano foi ainda responsável pela recuperação de uma casta antiga de grande qualidade, a Tinta Grossa. Retirada ao esquecimento, integra agora o primeiro varietal, Paulo Laureano Tinta Grossa, um vinho superpremium. De cor granada, com aroma de madeiras exóticas, frutos silvestres e especiarias, proporciona uma prova macia, elegante, com uma acidez evidente e um final longo bem marcado.
Outro uso notável de uma casta portuguesa ornamenta o Verdelho Maria Teresa Laureano, obtido a partir de vinhas velhas enxertadas com garfos provenientes da Ilha da Madeira. Após a fermentação, estagia sob uma borra fina que lhe proporciona untuosidade. Com aroma de flores brancas, frutos tropicais e a mineralidade das notas atlânticas, dá uma prova bem balanceada, cheia de equilíbrio.
Seria injusto não destacar também a Antão Vaz, presente em várias criações do portfólio, como o Paulo Laureano Reserve, ou o Dolium Escolha Branco. No terroir da Vidigueira, esta casta adquire uma expressão mineral, madura, que remata numa explosão de frescura e potencial gastronómico.
Entre as tintas, é talvez a Alfrocheiro que mais se destaca pela originalidade com que se desenvolve aqui de um modo especial. Com um aroma de frutas frescas e especiarias, revela-se exuberante, com taninos muito vivos, muita frescura e amoras silvestres. A sua expressão mais plena manifesta-se nas várias edições do Paulo Laureano Genus Generationes Miguel Maria Laureano Alfrocheiro, de edição muito limitada.
Por fim, uma palavra para uma gama icónica do autor: os vinhos Dolium Reserva e Escolha. O primeiro é um blend de castas tintas que tem integrado parcelas variadas de Aragonês, Trincadeira e Alicante Bouschet. Fermentado em barricas de carvalho francês, maturando aí 18 meses e 12 em garrafa, apresenta cor granada, aroma com notas de frutos negros em compota, especiarias e folha de tabaco, dando uma prova macia, de acidez equilibrada, com a marca das especiarias.
Quanto ao Dolium Escolha, branco, é na edição de 2014 um varietal de Antão Vaz, maturado em barricas de carvalho francês durante 8 meses com batonage a que se segue um ano em garrafa. De aroma elegante a frutas tropicais, forte mineralidade e especiarias, é um vinho macio, elegante, untuoso, muito fresco e estruturado, com final longo e desafiante.
Pelo seu percurso notável de consultor e designer de algumas dezenas de vinhos excepcionais, não nos é difícil antecipar um futuro radioso para a missão que Paulo Laureano chamou a si na Vidigueira, em terras do Alentejo profundo. Expressão da sua personalidade forte, de um absoluto respeito pelo terroir e da paixão que consagra à descoberta das expressões mais nobres das castas portuguesas que ele tanto ama, os vinhos de Paulo Laureano desafiam a eternidade.