Há momentos em que a vida se encarrega de fazer, por nós, escolhas mais felizes do que as que poderíamos ter feito de outro modo. Quando os Manz se mudaram para Cheleiros, a produção de vinho ocupava um local remoto nos seus projectos para o futuro.
Mas a oferta de um hectare de terreno, e a contemplação da paisagem bucólica e dos costumes da região cativaram André Manz, que se dispôs a ser vitivinicultor para consumo próprio, por pura diversão. Até ao dia em que, num encontro de negócios, deu a provar aos parceiros os frutos do seu passatempo.
Coberto de elogios, considerou tomar a sério a comercialização. Esquecidas, na vinha adquirida, existiam duzentas cepas de uva branca, incógnita, de uma casta que nem os jovens enólogos se atreviam a nomear. Eram as últimas cepas de Jampal, uva frágil, pouco rentável, em extinção. Uvas de qualidade extraordinária.
Ao primeiro vinho, cem por cento Jampal, chamou Dona Fátima. Foi colocado por Julia Harding entre os 50 melhores vinhos de 2010 a partir de uma selecção de 1200 marcas portuguesas. A insigne crítica de vinho britânica compara-o a um “delicado Gewürz” no nariz, com melhor acidez e mais citrino, remetendo na boca para um “Chenin do Loire”.
Para Manz era a consagração. O seu projecto vitivinícola depressa se alargou ao desejo de recuperar o prestígio da região. Restaurou a antiga escola primária, abandonada, que transformou em adega, e no lagar antigo instalou uma exposição permanente de artefactos que os habitantes designam por museu.
Depois, contagiado pelo seu fulgor criativo, lançou-se noutros projectos, em várias regiões. Depressa surgiu o Manz Douro — um vinho de cor intensa, encorpado, muito elegante e complexo, que alcançou uma medalha de Ouro no Mundus Vini de 2013.
De Palmela chegou o Contador de Histórias, um blend magnífico de Touriga Nacional, Syrah, Petit Verdot, sedoso e aromático.
De Cheleiros, uma viagem à Estremadura: o Pomar do Espírito Santo, tinto encorpado, com aromas de fruta madura e compotas, com estágio em carvalho francês e americano. Mereceu uma medalha de Prata no Mundus Vini.
E num esforço de conglomerar castas, tendências, influências, fez-se o Platónico: um tinto de aromas intensos, com Aragonez, Castelão e Touriga Nacional, muito gastronómico, com toda a complexidade dos vinhos superiores.
Hoje, a Manzwine exporta para vários países da Europa, Ásia e para o Brasil. A sua paixão pela qualidade, aliada ao brilho dos blends arrojados, dão ao portfólio da casa um perfume de aventura irresistível. Para Manz, cujo destino foi tão marcado pelos acasos, este é apenas o princípio de outras criações inesperadas. Assim esperam os amantes dos seus vinhos.