Foi em Azeitão, entre as belas vinhas de Setúbal, que nasceu em 1948. Na José Maria da Fonseca, empresa tutelar dos vinhos da região, que já empregara o seu pai, encontrou uma escola e uma vocação. Pela mão firme do Engº António Soares Franco, prestigiado enólogo português, inicia a carreira que o iria alcandorar a chefe do departamento de enologia, e depois disso encontra em França o terreno ideal para solidificar com o rigor do intelecto os conhecimentos da experiência, concluindo a formação na Université Victor Ségalen de Bordéus. Uma longa e profícua carreira se seguiria, na qual fundou marcas hoje lendárias como a Granja/Amareleja ou a Tapada de Coelheiros, em regiões tão contastantes como a Bairrada, Beira Interior, Ribatejo, Alentejo e Setúbal.
Em 2002 inaugura a sua própria empresa, cumprindo o sonho de comercializar um portfólio selecto de vinhos de qualidade a preços não proibitivos, valorizando o trabalho dos pequenos produtores. António Saramago, que não possui vinhas próprias, adquire esses vinhos após o processo fermentativo (seguido por ele com minúcia) e responsabiliza-se por lhes dar o estágio que melhor os favorece, já nas suas instalações.
Esta metodologia permitiu à empresa assegurar a apresentação de verdadeiras preciosidades, como o “Escolha António Saramago”, de Setúbal, que conquista os dois prémios mais cobiçados da região. Segue-se o “António Saramago Reserva”, ícone da casta Castelão, a que se acrescentam em blend percentagens menores de Alicante Bouschet, Cabernet Sauvignon e Trincadeira. De cor rubi intensa, aroma a frutos vermelhos e bons taninos, é vinho de complexidade aromática, muito gastronómico.
Entre os alentejanos que constam do seu portfólio é merecedor de natural destaque o “Dúvida”, distinguido na colheita de 2008 com um prémio de excelência pela Revista de Vinhos. De cor retinta, aroma de ameixa preta, apresenta taninos bem firmes, uma acidez muito equilibrada e um final prolongado.
Outra revelação foi o Cinquenta AS tinto, vinho notável criado para celebrar os 50 anos de enologia do autor. Aqui, a casta Castelão faz sobressair toda a personalidade do terroir. Com estágio em barricas de carvalho francês durante 18 meses, é um vinho denso, com aroma profundo, que brilha entre carnes e queijos de pasta mole.
Como é próprio de um bom filho da sua terra, António Saramago não poderia desdenhar o Moscatel. Distinguido com Medalha de Prata no concurso internacional Muscats du Monde, o interessantíssimo Moscatel de Setúbal António Saramago é estagiado em carvalho francês durante quatro anos antes de ver a luz do dia. De cor topázio, aroma a casca de laranja, mel e frutos secos, é aperitivo untuoso, equilibrado, com boa acidez, e também acompanha sublimemente doces regionais.
Este e outros vinhos têm ajudado a perpetuar a fama da região e dos seus produtores, que encontram em António Saramago um esteio e um exemplo de criatividade, sabedoria e amor ao terroir — um terroir merecedor de todos os cuidados, que o produtor enobrece com cinco décadas de paixão infinita.