Montargil, distrito de Portalegre. Há muito que nesta região nascem alguns dos mais icónicos vinhos Alentejanos. Para as várias gerações dos Ataíde a propriedade a que chamavam sua era um jardim das delícias, repleto de recordações de infância e fonte de harmonia familiar.
Até ao dia, não muito remoto, em que decidiram dar uso a dois hectares de vinha, observando que os seus frutos tinham a força de uma revelação. Foi em 2007 a primeira vindima. Dela se extraiu um vinho magnífico, a transbordar de carácter.
A actual proprietária, Rosário Ataíde, iniciou então a aventura auspiciosa de criar marca própria e exibir as virtudes da sua terra. Como o pai, por carinho, lhe chamara “raposinha”, foi esse o nome posto à quinta e ao vinho que prodigalizava.
Num ápice os dois hectares deram lugar a quinze, e os vinhos da casa tornaram-se assunto sério quando um punhado de grandes apreciadores os nomearam, destacando-os entre os melhores de Portugal. Hoje o Monte da Raposinha está firmemente implantado no selecto grupo dos produtores de vinhos mais prestigiados da região.
Desde 2013 conta com o apoio de Susana Esteban, que a Revista de Vinhos já elegera Enóloga do Ano em 2011. O portfólio da marca integra dois tipos de branco e quatro de tinto, desde o vinho de entrada, baptizado como Nós, até à edição rara do Furtiva Lágrima, um tinto para ocasiões excepcionais.
Entre estes perfilam-se o Monte da Raposinha Tinto e Branco, reconhecidos pelo seu equilíbio aromático e óptima prova, o Branco Reserva, feito com chardonnay e sauvignon blanc, que estagia oito meses em barrica, muito gastronómico, e ainda um dos grandes triunfos da marca — o Ataíde tinto Grande Escolha, a que o crítico João Paulo Martins entregou o prémio “Melhores Tintos do Ano” em 2015, por ocasião do lançamento do seu guia canónico de vinhos portugueses.
Com uma pontuação de 17,5 valores, João Paulo Martins destaca o Grande Escolha de 2011 por estar “muito bem no aroma”, num “diálogo conseguido entre a fruta e a barrica, … muito atractivo na prova de boca, macio e sobretudo muito elegante”.
Quanto ao Furtiva Lágrima, tem sido nas várias edições um magneto para o arrebatamento dos conhecedores, merecendo o prémio Escolha da Imprensa 2014 e tendo sido distinguido pela Revista de Vinho com a nota excepcional de 2018 valores, o que o integrou nos Topos de Gama do Alentejo. Trata-se de um vinho tinto polido, proveniente dos melhores lotes das barricas de carvalho francês, com uma produção de apenas 2000 garrafas, feito de Syrah, Alicante Bouschet e Touriga Nacional, que proporciona uma prova excepcional.
A maturidade do Monte da Raposinha quase nos faz esquecer que foi já em 2010 eleito Produtor Revelação pela Revista de Vinhos, uma das mais importantes distinções que se podem alcançar em Portugal. Hoje, meia década passada, essa revelação tornou-se um ponto assente, imperturbável, que tranquiliza quem ama os seus blends macios, elegantes e refinados.
Tolstoi escreveu que todas as famílias felizes são parecidas. Mas os vinhos, felizmente, não.