A região do Tejo, que se alonga a Norte de Lisboa, revela-nos gentilmente os seus segredos. Na Companhia das Lezírias, a mais vasta extensão agrícola, pecuária e florestal portuguesa, produzem-se vinhos desde 1881. Mas quantas coisas se produzem mais: cortiça, madeira, azeite, arroz, carne de bovino, caça, cavalos. Um sem-número de actividades tornaria fácil esquecer as vinhas, por ocuparem apenas 130 hectares entre os vários milhares que compõem a propriedade. Não é o caso.
A Companhia orgulha-se de algumas das criações mais estimulantes do mercado. Para isso contribui a ampla selecção de castas, com predomínio das tintas, em que impera a Alicante-Bouschet, seguida das Castelão, Trincadeira, Aragonez, Touriga-Nacional, Cabernet-Sauvignon, Syrah, Merlot, Touriga-Franca, Tinta Barroca e Tinto Cão. Entre as brancas enumeram-se a Fernão Pires, Trincadeira das Pratas, Arinto, Roupeiro, Tália, Verdelho e Vital. Na adega instalou-se há muito um sistema de frio, cubas de inox, e realizaram-se obras que, em caso algum, puseram em risco o sistema de fermentação em ânforas argelinas tão simbólico para a casa.
Naturalmente, o portfólio revela bem a diversidade o alcance da exploração. A denominação Companhia das Lezírias designa vinhos das castas Castelão, em tinto, e Fernão Pires em vinho branco. Aos regionais atribuiu-se o nome Catapereiro, sendo lotes das várias castas autóctones. Do tinto é seleccionado em certos anos um pequeno lote que estagia em barricas pequenas de carvalho francês e dá origem ao Catapereiro Escolha.
Recentemente, a marca Tyto Alba tem vindo a impôr-se entre concursos internacionais e apreciadores exigentes. O crítico João Paulo Martins elege calorosamente várias instâncias da gama no seu guia de vinhos de 2016.
O Tyto Alba branco, de 2014, revela-se “citrino com laivos dourados, aroma de fruta madura, com ameixas, alperce e tarde de limão (…), bom volume de boca untuoso, mas equilibrado por boa acidez”. Um lote de Fernão Pires e Verdelho. O Tyto Alba tinto Vinhas Protegidas, por seu turno, lote de três castas com “frutos maduros, leves notas de violetas, perfil denso mas com elegância, sugestão de vegetal seco e leve mentol”, dá “prova muito agradável e à mesa será um sucesso”, conclui. Finalmente, o Tyto Alba tinto Vinhas Protegidas Touriga Nacional surge muito apreciado pela casta “envolta num manto de fruta madura e de tons austero (…) com leves notas mentoladas e de eucalipto”, com boa proporção de boca, taninos finos e corpo ajustado, excelente para consumir ou guardar.
Este breve percurso pelos vinhos da Companhia das Lezírias não ficaria completo sem homenagearmos o extraordinário tinto 1836 Grande Reserva de 2012, muito concentrado na cor e, ainda, fechado nos aromas com “algum floral, notas de chocolate,
frutos pretos, cacau. (…) os taninos são finos mas estão em grande evidência, a textura é sedosa e rugosa (…), a acidez está óptima. O vinho é grande? É!”, conclui o prestigiado crítico português.
Em suma, os triunfos e consagrações da Companhia da Lezírias revelam que bem como a produção de vinhos de elevada qualidade tem vindo a enobrecer a região. A mestria de Bernardo Cabral e da equipa que tutela, combinando o fervor das origens, o respeito pela natureza e criatividade de quem aspira ao sucesso, permitem-nos profetizar um futuro tão variado e estimulante como a vasta propriedade que os acolhe.