As grandes obras nascem, com frequência, da teimosia de quem as realiza. Quando Rui Virginia se aborreceu com a falta de atenção de que padeciam os vinhos algarvios, decidiu pôr mãos à obra, criando ele próprio um caso de estudo que honrasse a vitivinicultura portuguesa e dignificasse a região. Em 2001 iniciou a produção de vinhos da Quinta do Barranco Longo, sem imaginar que década e meia mais tarde teria um portfólio com 20 referências e uma produção média anual de 100 mil litros.
A Quinta localiza-se no barrocal algarvio, na faixa de terra que separa o litoral do interior. Com uma elevação média de 400 metros, recebendo ainda a frescura marítima e acolhendo a exposição solar que deu fama ao Algarve entre visitantes de todos os continentes, reúne as condições climatéricas perfeitas para a produção de vinhos de qualidade. Os solo argilo-calcários, as castas criteriosamente selecionadas compõem o bouquet ideal para um terroir de excepção.
Dos 75 hectares da exploração agrícola, 15 são ocupados pela vinha, equipada com rega gota-a-gota e vindimada manualmente nos primeiros dias de Agosto de cada ano, quando os frutos alcançam o melhor ponto de maturação. Os cachos são colhidos para pequenas caixas de 12 kg, e refrigerados até ao processamento.
Na adega, a jovem equipa de enologia, liderada por Patrícia Piassab, dispõe de todos os meios tecnicos para assegurar a qualidade das produções. A vinificação é realizada em cubas de inox, com controlo de temperaturas. Encontra-se equipada com linha de enchimento, prensas de elevada eficiência e equipamento adequados à produção de espumantes. Na sala de estágio alinham-se as melhores barricas de carvalho francês, americano e húngaro. Só assim é possível alcançar um portfólio de excepção.
Rui Virginia rejeita participar em concursos desde a primeira hora. O produtor assegura que os vinhos se fazem na rua, no diálogo com os apreciadores, os críticos, a melhor restauração. A presença seminal dos seus vinhos em provas e eventos da especialidade testemunha o alcance desta estratégia de abertura ao mundo. A gama chega em auxílio do enófilo com propostas variadas e originais.
Do Barranco Longo Rosé, blend de Aragonez e Touriga Nacional, um dos primeiros vinhos da casa, até às ousadas combinações de castas autóctones e internacionais, sem esquecermos as vénias a variedades incontornáveis (como o Reserva Syrah, o Reserva Cabernet Sauvignon, o Reserva Alicante Bouschet ou Petit Verdot), tudo contribui para que o portfólio exude uma frescura e modernidade que explicam o seu vasto sucesso entre o público e o triunfo nas exportações.
Algumas palavras de relevo são devidas aos seus Remexido, branco e tinto. Assim baptizados em honra de um guerrilheiro algarvio que se notabilizou nas guerras liberais, são vinhos rebeldes como o homem que homenageiam, muito apreciados pelos conhecedores. O Remexido Tinto, que mereceu classificação de 17 valores na Revista de Vinhos, é um blend de Alicante Bouschet, Cabernet Sauvignon, Touriga Nacional e Syrah, aí muito apreciado pelo “aroma exuberante, muito floral, notas de bosque, especiado” e“fundo achocolatado”. A nota de prova chama-lhe “polido na boca”, com“boa profundidade, guloso mas mantendo alguma frescura”. O Branco recomenda-se pela excelente acidez, a untuosidade invulgar, o “enorme final” de um conjunto que o Clube de Vinhos Portugueses reconheceu como “um vinho de grande nível”.
Há homens que desafiam os preconceitos do seu tempo e triunfam onde outros são incapazes de se aventurar. Ao concretizar a ambição de produzir vinhos de grande nível no barrocal algarvio, Rui Virginia conseguiu alargar os nossos horizontes merecendo a gratidão da elite dos apreciadores.